O Mundo Imaginário

A instalação surgiu da pergunta: o que acontece quando meninas são convidadas a brincar em espaços tradicionalmente reservados aos rapazes?

Ainda hoje, os ecos da colonização atravessam as relações sociais e aprofundam desigualdades de género — visíveis na posição estruturalmente subordinada das mulheres. Apesar das transformações vividas, questões fundamentais como segurança, visibilidade e participação permanecem marcadas por assimetrias profundas.

Através do brincar e da imaginação, as crianças oferecem um contraponto a estas realidades. Em São Tomé, é comum ver rapazes a brincar com tábuas — pranchas de madeira feitas à mão — em jogos que expressam criatividade e abrem espaço para novas formas de relação.

O Mundo Imaginário responde a essa prática ao convidar meninas a participar nesse espaço até então vedado. Pela brincadeira partilhada e pela aprendizagem mútua, o projeto afirma o brincar como linguagem comum — e como ferramenta de escuta, reflexão e transformação.

Apresentada na 10.ª Bienal de São Tomé e Príncipe, À (Re)descoberta de NÓS, a instalação reúne duas pinturas e uma tábua construída pela geração que introduziu esta prática na vila de Santana. Durante o projeto, foi a primeira vez que meninas participaram ativamente no jogo. A tábua torna-se, assim, objeto de resgate cultural e símbolo da mudança nas dinâmicas de género. Em conjunto, as obras da instalação refletem sobre o passado colonial e os seus ecos no presente, ao mesmo tempo que abrem espaço para novos imaginários de relação, participação e futuros partilhados.